Altera letra Quarta-feira, 25 de maio de 2011, 15h56
Raça e idade não podem ser impedimentos para adoção
Arquivo pessoalMaria Aparecida Leite aceitou a possibilidade de adotar um filho e realizar seu sonho de ser mãeA auxiliar administrativa Maria Aparecida Leite passou por longos tratamentos para engravidar, mas uma limitação biológica nos ovários não a impediu de realizar o sonho da maternidade.
Encarar as limitações físicas foi um passo de coragem de Maria e seu esposo que se abriram à possibilidade da adoção. Primeiro a ideia foi amadurecida dentro deles a partir de muita conversa e oração. “Além de estarmos trabalhando a adoção dentro de nós, algumas pessoas que tinham essa experiência foram sinais de Deus para a confirmação que este era o caminho que Deus queria”, conta Maria Aparecida.
O juiz da Vara da Infância e Juventude de São Bernardo do Campo (SP) e membro da Coordenadora da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça, Luiz Carlos Ditommaso, conta que no Brasil milhares de crianças vivem uma triste realidade: elas esperam por uma família.
“Há muitas crianças e adolescentes em instituições e não existem famílias que os queiram, pois a preferência maior é por meninas brancas de até seis meses de idade”, explica o juiz.
Esse é o perfil mais procurado pelas 26.938 famílias que estão na fila de adoção, mas a realidade das 4.583 crianças e adolescentes que vivem hoje em abrigos é bem diferente.
A maioria (76%) dos interessados inscritos no Cadastro Nacional de Adoção procura filhos adotivos até 3 anos de idade, apenas 3,6% das crianças estão nessa faixa etária. Segundo o juiz, a partir dos 4 anos começa a surgir as chamadas adoções tardias.
“Vemos então nas instituições crianças mais velhas, adolescentes e grupos de irmãos que não têm a oportunidade de ter uma família porque não há que os queriam”, destaca Ditommaso.
Dos cerca de 29 mil meninos e meninas que vivem em abrigos no Brasil, apenas quatro mil estão aptos para adoção. Desse total, aproximadamente a metade é de raça negra e 21% possuem problemas de saúde como deficiência física ou intelectual, segundo dados divulgados pelo Cadastro Nacional da Adoção (CNA) em abril.
Dados de maio do CNA mostram que São Paulo é o estado com maior número de crianças e adolescentes em condições para a adoção: 1.221. Em seguida vêm o Rio Grande do Sul (758), Minas Gerais (562) e o Paraná (433).
Em vista desse drama social, o Governo Federal lançou na terça-feira, 24, a campanha Família para Todos, com o objetivo de conscientizar sobre a importância da adoção de crianças e adolescentes excluídos pelos perfis idealizados pela maior parte dos pais adotivos.
O governo quer enfatizar a adoção como um direito da criança. A iniciativa é uma parceria entre a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e a organização não-governamental Aconchego.
Caminho para adoção
Quem pensa em acolher uma criança precisa seguir os procedimentos legais e o primeiro passo é a inscrição na vara da infância mais próxima. Depois da inscrição, o interessado passa por uma avaliação psicossocial.
Apesar de existirem outras vias é recomendado sempre as vias legais, pois é o caminho mais seguro, como alerta o juiz, o uso de outros meios pode ocasionar a perda da guarda, causando maior trauma para a criança.
Para Ditommaso, os brasileiros ainda restringem muito o perfil da criança a ser adotada, ao contrário dos estrangeiros que são mais abertos e menos seletivos na hora da adoção.
“O estrangeiro não escolhe, ele chega com um perfil pré-estabelecido na legislação de seu país, onde por exemplo estabelece a adoção de crianças de 3 a 10 anos de idade. Eles não fazem questão de uma criança de 3 anos, pode ser uma de 10, pouco importa também a raça, eles aceitam aquela criança como seu filho”, afirma.
O juiz enfatiza que é preciso mudar essa cultura brasileira, dando mais oportunidades de adoção para as crianças mais velhas.
“A sociedade os rejeita e os abandona porque pensa que eles vêm cheios de vícios e problemas e o único problema que eles têm é a carência de uma família. O mais importante é que existisse uma conscientização, uma mudança de cultura para aceitar aquele filho destinado por Deus, que está a sua espera independente da idade”, ressalta Ditommaso.
Vocação de ser pai e mãe
Para adotar, o juiz ressalta que antes de tudo é preciso ter a vocação de ser pai e mãe. “Não queremos pessoas que façam adoção para pagar promessa, para fazer caridade ou ter uma companhia na velhice, queremos pessoas que queiram ter filhos e possam ser para eles verdadeiros pais”, destaca.
Depois de passar pelas vias legais, a adoção é uma benção para toda família, onde é possível viver toda a beleza da maternidade e paternidade.
“Eu posso dizer com todas as letras que sou mãe. Deus pode usar da gente, gerando no coração, para viver a maternidade com tudo aquilo que é belo de ser mãe. Graças a Deus, por ter partido pelas vias legais, sou mãe amparada pelo direito de ter meu filho comigo pelo resto da minha vida”, enfatiza Maria Aparecida.